( Claudio Porfirio Cavalcante )
Porque muitos acidentes graves de queimaduras envolvendo crianças ocorrem na cozinha, no fogão? Uma criança de 2 anos ao ver sua mãe no fogão todos os dias, considera que deve ser alguma coisa legal, alguma coisa boa, alguma coisa gostosa. Pois muitas vezes a mãe leva o dedo até a boca. Como todo a criança imita a mãe( imita o outro), mais cedo ou mais tarde ela vai mexer nos cabos das panelas.
Mesmo que a mãe tome alguns cuidados, como virar os cabos das panelas ou colocar a panela de óleo na boca de trás do fogão, ou não deixar a criança na cozinha enquanto estiver usando o fogão, mais cedo ou mais tarde aquilo que parecia improvável de acontecer, acontece.
A mãe tem que pensar que em algum momento, em algum dia, vai se distrair para atender um telefone, abrir a porta para alguém que tocou na campanhia, tirar o cachorro da cozinha que entrou ao abrir a porta, e várias outras coisas poderiam tirar a atenção da mãe em relação a criança. São segundos eternos, suficientes para a criança ir até o fogão e mexer na panela de óleo quente. Ou empurrar uma cadeira e mexer na panela de óleo quente. Ou chutar uma bola que cai na panela de óleo quente.
...Ou alcançar a panela de óleo quente com uma vassoura enquanto a mãe está distraída pegando alguns cacos de vidro grandes antes de varrer o chão por causa do copo que ela deixou cair...
Como o improvável acontece, significa que em algum momento a mãe perderá o controle da situação. E a criança vai ter acesso ao fogão no momento em que a mãe estiver distraída.
Então, além de tomar todos os cuidados para que a criança não mexa no fogão. É preciso mostrar a criança que o fogão não é uma coisa para criança brincar. É preciso mostrar para a criança que a mamãe não está brincando, não é uma coisa legal, não é uma coisa boa. Pois é essa impressão que a criança tem do fogão. Pois a mamãe fica ali todos os dias brincando com botões, mexendo com panelas, brincando de papá. Fazendo papá pra criança.
Então uma forma de mostrar para a criança que o fogão não é uma coisa boa, basta a mãe aproximar o dedo(da mãe) da panela e dizer “ Dodói ! “ puxando o dedo rapidamente até o corpo simulando uma pouco de dor. Sempre que a mãe fizer isto quando estiver no fogão, a criança( 2 anos) vai começar a perceber que o fogão é dodói. E não algo legal, não é uma brincadeira que faz papá pra criança.
Embora seja uma emoção negativa para a criança ao ver a mãe sentindo dor ao tocar na panela. Essa emoção negativa que ficará estampada na alma da criança nem se compara com o trauma que essa criança terá se o óleo quente da panela cair em seu rosto, em seus braços, em seu corpo.
Então entre a emoção negativa e o trauma do óleo quente. ( Pois a probabilidade de um acidente no fogão é muito grande) é melhor que a criança tenha somente aquela emoção negativa da mãe sentindo um pouco de dor ao aproximar o dedo da panela.( o dedo da mãe e não da criança)
Embora nunca presenciei uma trauma desse com uma criança, minha empatia sente esse trauma ao ver esses acidentes na televisão. Então minha empatia quer dizer que existe uma outra forma para que a criança associe rapidamente o fogão como algo que é “ dodói”.
Por exemplo:
Vamos considerar que a criança tem medo do ferro de passar roupa. O improvável aconteceu, você se distraiu e a criança tocou no ferro quente. A criança tem medo do ferro, porque se afasta dele e o chama de dodói.... Então é o momento de mostrar à criança que o fogão é dodói da mesma forma que o ferro de passar roupa. Basta levar o ferro próximo ao fogão e com o dedo mostrar o ferro e o fogão para a criança dizendo: “ Ferro dodói !” - “Fogão dodói!”. Assim a criança associará o fogão com o ferro. E o evitará. A mãe então pode mostrar para a criança através dessa associação tudo aquilo que é perigoso, que é quente. Como por exemplo o escapamento de uma moto. Basta aproximar o ferro de passar do escapamento da moto e dizer “ Ferro dodói !” - “ moto dodói”.
Lembre-se, há uma grande probabilidade do improvável acontecer mesmo com todos os seus cuidados, então é melhor que a criança saiba que a moto tem um dodói na parte de baixo da moto, no escapamento. O tempo que você vai precisar para ensinar a criança, é pouco se comparar com tempo que a criança vai precisar para se curar do trauma de uma queimadura.
Mas mesmo tomando todos esses cuidados. O improvável ainda pode acontecer....
Mas também é preciso ter mais tempo com as crianças. É preciso ter aquele momento sagrado em brincar no chão ensinando e mostrando o mundo a nossa volta. É preciso ter consciência do quão é importante ser amigo, conversar, explicar, ensinar, ter paciência para com a criança...
Se você soubesse o quão é importante cada minuto da sua atenção para com a criança.... Se você soubesse o quão é importante para a criança esse minuto.... Se você soubesse o quanto a criança se sente bem nesse minuto... Se você soubesse o quanto ela é feliz nesse minuto... Se você soubesse o quanto ela aprende nesse minuto...
Se você soubesse que o futuro dessa criança está sendo criado com o minuto da sua atenção...
Não basta somente dar atenção por obrigação... É preciso aprender a ter o prazer em dar atenção...
Se você conseguisse deslumbrar pelo menos um minuto da vida nos olhos de uma criança neste minuto da sua atenção... Você perceberia como eu, a comunhão do universo neste momento...
Você perceberia como eu, o sorriso do Universo...
Você perceberia e sentiria como eu,
que o sorriso do Universo...
não é uma metáfora...
( Claudio Porfirio Cavalcante )